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Entre expectativas e receios: gerir a ansiedade no regresso às aulas

Quando pensamos no mês de Setembro, a nossa mente recai, inevitavelmente, na azáfama do regresso às aulas. Apesar de ser um período entusiasmante para muitas crianças e jovens – pela perspetiva de rever amigos, pela compra do novo material escolar e até pelo aroma dos livros novos – esta é também uma fase que pode despertar sentimentos de ansiedade e stress.

A ansiedade é a perturbação psiquiátrica mais comum com início na infância, afetando entre 10-30% da população pediátrica. Por isso, é natural que o regresso às aulas, marcado pelas expectativas criadas em torno do desempenho escolar, pela antecipação de novos desafios e, em muitos casos, por mudanças de escola ou de turma, seja encarado como um fator adicional de ansiedade para as crianças e adolescentes. Trata-se, portanto, de um momento que deve ser antecipado e preparado não só pelos pais, mas também pelos educadores/professores e pelas próprias instituições de ensino.

Ainda antes do início do ano letivo, é fundamental compreender os receios e expectativas dos mais novos através do diálogo: só assim é possível conhecê-los, entender as suas preocupações e validar as suas emoções, mostrando-lhes que os seus sentimentos e pensamentos são normais. Esta disponibilidade para o diálogo deve manter-se sempre, uma vez que é uma das bases para uma relação de confiança entre pais e filhos.

Outra medida essencial nesta época do ano é a adaptação das rotinas. Em idade pediátrica, as rotinas desempenham um papel crucial, transmitindo sensações de previsibilidade e segurança. Assim, ao ajustar as rotinas no início do ano escolar (horários de acordar, levantar e de refeições, períodos de estudo, horários de atividades extra-curriculares e de exposição aos ecrãs), vai ajudar a criança ou o jovem a sentir maior controlo sobre o seu dia-a-dia e a integrar-se mais facilmente nesta nova etapa.

É igualmente importante manter expectativas realistas e razoáveis relativamente ao desempenho escolar. Quando são criadas expectativas demasiado elevadas, o medo da falha sobrepõe-se e com ele surgem a frustração e a ansiedade. As metas devem, por isso, ser ajustadas às capacidades individuais e construídas em conjunto.

Mesmo fazendo todos os esforços para que a ansiedade não domine a vida das crianças e adolescentes neste período, ela pode tornar-se motivo de preocupação e justificar a procura de ajuda profissional – sempre que exista resistência na ida para a escola, evicção de atividades escolares e sociais, desinteresse e aborrecimento, flutuações de humor, ou sintomas físicos, nomeadamente dor de barriga ou de cabeça, vómitos, cansaço exagerado e dificuldades no sono.

Para concluir, o regresso às aulas é um momento que alia vários sentimentos, muitos deles até um pouco contraditórios. É natural que, no meio de tantas emoções, surjam sinais de ansiedade e stress, no entanto, é importante lembrar que estes sentimentos podem ser vividos de uma forma saudável e até contribuir para o desenvolvimento emocional das crianças e dos jovens. Cabe principalmente aos pais, mas também aos educadores e professores, a responsabilidade de oferecer o apoio necessário, criando um ambiente de segurança, diálogo e estabilidade, pois só assim é possível ajudar os mais novos a ganhar confiança, a acreditar nas suas capacidades e a transformar as dificuldades em oportunidades de aprendizagem.

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Sandra Costa

30 setembro 2025