“O nosso tempo exige-nos uma recusa clara do sectarismo e a junção de forças não só para combater a ofensiva das direitas, mas para lhe contrapor uma contraofensiva dos direitos”, disse Pureza no discurso de encerramento da XIV Convenção Nacional, que terminou hoje no Pavilhão do Casal Vistoso, Lisboa.
Defendendo uma "esquerda de pontes", que saiba dialogar, Pureza afirmou como prioridades a saúde, a habitação, a solidariedade com a Palestina e a emergência climática, a luta contra a violência doméstica e o “apoio aos trabalhadores que se sindicalizam e organizam”.
Ao fim de 26 anos de vida, e reduzido eleitoralmente, com apenas um mandato no parlamento, o BE fez nesta convenção um esforço de autocrítica, com dirigentes e delegados, não só os críticos internos como membros da direção cessante, a assumirem a necessidade de mudanças ou a exigirem-nas.
Em resposta, o novo coordenador prometeu que será "o primeiro a ouvir todo o partido, em todo o país", e disse estar certo de que todos os militantes, "seja qual for a sua sensibilidade ou tendência, se unirão neste caminho".
Uma comunicação mais próxima “do povo”, abertura à participação das bases nos processos de decisão, mais organização interna para aumentar a implantação e o “enraizamento social” do BE tinham sido os aspetos mais apontados ao longo do encontro.
Perante a erosão da militância e da base de apoio, o BE corre o risco da irrelevância, resumiu no sábado o ex-deputado e antigo dirigente do partido João Teixeira Lopes, alertando que, além das caras, o BE precisa de mudar as práticas.
Quanto a caras, saem do núcleo mais restrito Jorge Costa, Pedro Filipe Soares, José Gusmão e Mariana Mortágua, que se mantém na Mesa Nacional, órgão máximo entre Convenções para o qual foram hoje eleitos novos nomes, no objetivo de renovação e rejuvenescimento.
Apesar de vozes críticas quanto à estratégia, quer no que toca à organização, quer no que respeita às prioridades políticas, as votações confirmaram que a esmagadora maioria dos delegados expressou confiança numa lista.
O bloquista José Manuel Pureza foi eleito coordenador com a sua moção a conquistar 65 dos 80 lugares da Mesa Nacional, apenas menos dois do que a anterior direção de Mortágua.
Quanto à “batalha da organização”, como se lhe referiu o fundador Fernando Rosas, ficará a cargo de Isabel Pires, oriunda da extinta UDP, ex-deputada eleita pelo Porto e por Lisboa, de 34 anos, que já integrava a anterior direção e que terá como tarefa “arrumar a casa”.
“Só há luta de classes com organização militante, com núcleos de atividade onde se aprende, onde se decide, onde se faz”, reconheceu outro dos fundadores, Francisco Louçã, que pediu “persistência de formiga”.
As mudanças exigidas na XIV Convenção não se limitaram, contudo, à forma. Vários bloquistas de moções críticas defenderam a “centralidade do trabalho” na política do BE, para além das “causa identitárias”.
Mariana Mortágua, que se despediu da liderança “com orgulho e sem arrependimentos”, tinha pedido, no primeiro dia dos trabalhos, que o partido não se esqueça das causas como o feminismo ou a luta contra o racismo.
Foi Isabel Pires, que assume na nova direção funções de organização, a levantar a sala quando lançou, na sua intervenção, a palavra de ordem “todos à greve geral” e definiu como “tarefa imediata” do partido derrotar o “pacote laboral”.
No final de uma manhã dominada por críticas ao funcionamento interno e lamentos sobre a erosão da militância, Isabel Pires disse que “todos fazem falta”, anunciou um “programa de formação” e prometeu mais ligação aos núcleos e aos aderentes de base para “um Bloco mais aberto”.