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Palavra, escuta e farmacologia. Em que estado está a saúde mental em Portugal?

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Publicado em 31 de outubro de 2024, às 14:34

Debate nos estúdios da DMTV sobre o estado da saúde mental em Portugal

 

A saúde mental em Portugal tem sido tema de crescente preocupação, devido ao  aumento dos diagnósticos de transtornos mentais e também pela necessidade de ampliar o acesso aos serviços de apoio.

Este foi o tema em debate na DMTV, que contou com a presença de Miguel Gonçalves, professor Catedrático na Escola de Psicologia da Universidade do Minho, do Padre Jorge Vilaça, coordenador da Pastoral da Saúde e da Dra. Catarina Iglésias, psicóloga nas Irmãs Hospitaleiras, neste que é o mês em que se assinala o Dia Mundial da Saúde Mental.

Os oradores destacaram os avanços alcançados e os desafios que ainda estão a ser enfrentados na assistência à saúde mental, especialmente em termos de estrutura comunitária e acesso aos cuidados primários. 

A psicóloga Catarina Iglésias reconheceu os investimentos recentes, como a criação da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados em Saúde Mental, que visa reforçar o atendimento e a assistência na comunidade. No entanto, apontou que “as vagas ainda são poucas para a necessidade que temos de intervenções de reabilitação psicossocial para os utentes que vivem na comunidade e que precisam deste tipo de serviço.” Apesar dos progressos, a psicóloga vê como urgente a expansão desses serviços para cobrir a procura crescente, especialmente entre aqueles que, embora não necessitem de internamento, precisam de apoio contínuo e de uma rede mais estruturada na comunidade. 

Pela sua visão, “ainda há um caminho a percorrer” para garantir que a assistência na saúde mental seja suficientemente abrangente e eficaz para todos.

O professor Miguel Gonçalves trouxe uma perspectiva ampla e enfatizou a importância de distinguir os cuidados para pacientes crónicos daqueles destinados à população em geral. Ele concordou que “começam a existir respostas, mas são ainda muito parciais e difíceis” para os pacientes com quadros crónicos, que enfrentam barreiras para aceder a hospitais de dia e estruturas de reabilitação que permitam a sua reintegração social. 

Além disso, ressalvou que há uma grande quantidade de pessoas que carecem de apoio psicológico primário para tratar questões como ansiedade e depressão, cujas taxas de prevalência, segundo o professor, chegam a ser de 30/40% da população. “Nós sabemos que a percentagem de pessoas que sofrem de perturbações de ansiedade e de perturbações depressivas é muito considerável” afirmou, sublinhando a necessidade de um sistema de saúde mental acessível em todos os níveis de cuidados. 

Para ele, é essencial um modelo que atenda a essas necessidades nos cuidados primários, como o que foi implementado no Reino Unido, onde psicoterapia é oferecida a pacientes com quadros clínicos menos graves, reduzindo a necessidade de medicação em alguns casos.

O padre Jorge Vilaça trouxe ao debate uma visão baseada na experiência do atendimento diário num “centro de escuta”, onde observa uma queda no bem-estar psicológico da população. Ele mencionou que “o bem-estar psicológico está a diminuir”, e que isso é perceptível em pequenas atitudes, como a irritabilidade no trânsito ou em filas de supermercado, sinais que indicam um aumento do mal-estar psicológico generalizado.

 Com a experiência que tem, mesmo com o crescimento dos serviços de apoio e acompanhamento, acredita que a saúde mental das pessoas possa estar em declínio. Pelas suas palavras, esse fenómeno reflete um esgotamento emocional que vai além da saúde mental clínica, pois acredita que vê a queda do bem estar psicológico como uma indicação de que, embora falemos mais sobre saúde mental, a pressão e o ritmo de vida modernos podem estar a impactar, de maneira negativa, o estado psicológico da população em geral.