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Satisfação

 

 

Quinta feira passada, Braga e Guimarães estiveram unidas para homenagear não apenas mais um Democrata, mais um homem da resistência ao Estado Novo, mais um militar, mais um advogado, mais um professor, mais um fundador de um Estado de Direito ou um construtor da Liberdade. Não. As duas cidades estiveram unidas para prestar tributo a um homem singular, cujo contributo para a Memória e Liberdade dos povos que a ela aspiravam há 50 anos, foi não só marcante, como nos revelou, em toda a plenitude, a grandeza de quem ao longo da vida serviu sem se servir, projetando os valores e princípios humanistas que se exige e são pedidos às mulheres e homens que têm o raro privilégio de se tornarem uma referência intemporal para lá do tempo material, unindo e trabalhando em prol de um mundo novo, de aspiração de povos à autodeterminação, simbolicamente projetados pela vontade lúcida e inquebrantável de tomarem para si posse da sua própria Autora da Liberdade. Chama-se Wladimir Brito. Completou nesse dia 77 anos, data que nos uniu, à Comissão de homenagem aos Democratas do distrito de Braga, à reitoria da Universidade do Minho e à Escola de Direito, num momento feliz, para olharmos para o ser percurso e perceber a verdadeira dimensão do seu contributo para a história recente dos países que abraçou na sua constante luta pela Democracia: Guiné-Bissau, Cabo Verde e Portugal. Desde a sua integração na célula clandestina do movimento de apoio de libertação dos povos africanos de língua portuguesa, em Coimbra, enquanto cursava Direito, até à sua integração nas forças armadas e à participação no Movimento dos Capitães, a partir do quartel da Figueira da Foz, Wladimir Brito partiu pedra a pedra, não se desviando do caminho que, desde a juventude, sabia ser duro, mas o correto, escolhendo o incerto e a perseguição, ao invés do silêncio e à acomodação. Cabo Verde já o tinha distinguido, mas voltou a fazê-lo juntando-se a esta cerimónia, quer através do Presidente da República que a ela se associou, via vídeo, elogiando aquele que designou como “o pai da Constituição”, quer através da Embaixada daquele país, em Lisboa, representada na cerimónia pela Encarregada de Negócios. Quando a natureza política de um homem nos aproxima, quando a sua Ágora se torna num palco de múltiplas referências contributivas, o seu rasto conduz-nos, com toda a certeza, para uma herança rica em que podemos beber ensinamentos sem ter receio de qualquer espécie de contaminação. Wladimir Brito foi e é, aliás, neste capítulo, um homem de futuro, sempre à frente e mostrou-o na sua intervenção, com a sua especial atenção dedicada às novas gerações, marcando-a com um apelo à sobrevivência positiva da relação intergeracional que deve sobreviver à diferença temporal. Com a devida vénia, cito aqui as suas palavras que sublinham este entendimento fulcral com o futuro da Democracia: “Diferença e experiência que nos unem e que, talvez, reclamam um novo contrato social entre as nossas gerações que tenha em conta as vindouras, a globalização, a evolução tecnológica e a nova temporalidade, a do agora e do imediato, por ela criada e a reinscrição no nosso pensamento do futuro com a sua natureza aberta, complexa e incerta. Um novo contrato social que reconheça a interdependência das gerações e nos convoque para novas conceções de democracia e novas práticas da liberdade, que tornem a participação cidadã numa nova e diferente forma de exercício da cidadania no espaço globalizado e dominado pelas novas tecnologias”.

Paulo Sousa

Paulo Sousa

26 outubro 2025